terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Poema 100


Com o centésimo poema, este blogueiro entra de férias. A próxima atualização acontecerá dia 13 de janeiro. Abraços e beijos a todos!

Sobre o Fim

Dorme, sonho meu,
que eu já cansei de
tanto barco e tanta asa;

já nem sei mais a conta
dos abismos, dos avessos e vazios
que no fim atravessei por nada.

Dorme, sonho meu,
que (sim) a vida é crua;

mas aprendi que assim
é livre a rua, é nova a lua,

e não há mais chuva
para me prender em casa,
com a alma nua, à tua espera.

Dorme, sonho meu,
que sem ti

não há mais medo,
nem desejo, nem segredo;

só certa paz triste
(banhada de vermelho),

e um coração
enfim ileso.
(por Filipe C.)

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Poema 99


Este blogue volta a ser atualizado dia 9 de dezembro
.

Sobre Horizontes

De barcos e portos
sei quase nada.

Mas por ti
aprendi
tudo

sobre estrelas

e horizontes.

E já consigo
até medir em suspiros

essa distância entre mim
e o que fica sempre tão longe.

(por Filipe C.)

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Poema 98


Este blogue volta a ser atualizado dia 25 de novembro!

Sobre o Orgulho

Quando o tempo
embaça o passado
e confunde meus instintos,

deixo tudo de lado
e olho teu retrato
por horas e horas a fio.

Teu retrato
e minha retratação:

para sempre
dois inimigos.

(por Filipe C.)

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Poemas 96 e 97


Este blogue só volta a ser atualizado dia 11 de novembro; por isso, dois poemas hoje. Abraços e beijos a todos!


Sobre Desconfortos

Nunca aprendi a dizer
(olho no olho)

o que de mim é dor,
paixão, alegria ou lamento.

Pesa-me esta sensação
de estar a mais no mundo:

para viver,
faltou-me o talento.

(por Filipe C.)

Sobre Feriados

Chegou a hora
de rasgar uns retratos
e deixar a vida por aí ao acaso:

a partir de agora
(no coração)

todo dia é feriado.
(por Filipe C.)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Poema 94


Este blogue volta a ser atualizado em 7 de outubro. Abraços a todos!


Sobre a Morte - cinco passos, cinco meditações

1.
Singular
(sol entre sombras quedas),

ela enfim se apresenta

prometendo descanso
e um outro tipo de riqueza.



2.
Seu rosto não se vê,
seu corpo não se define.

É só a nós mesmos
que enxergamos nesta hora

(como moça que se nota
num relance de vitrine).



3.
Como se convencer
da necessidade da partida,
se falta impulso e mapa?

se nos pés (frágeis e incertos)
não cabe sequer uma sandália?

se no peito do capitão
só há a mancha da medalha?


4.
Chega o inevitável batel
(todo ouro e brilho),

suas velas abertas como garças,
sua gávea roçando de leve o infinito.

Eis que o não-saber
se torna todo sentir,

e o que era só certeza
se revela sem sentido.



5.
A viagem assim começa:

uma nuvem
serve de mar,

o vento vem
das asas dos passarinhos,

e o tempo vai tecendo um trilho
(feito de açúcar, veludo e vinho).

Esquecer
quem parte nesse navio

é tão improvável
quanto se perder desse caminho.

(por Filipe C.)

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Poema 93


Sobre Trens


É preciso
aprender a deixar os olhos
noutros olhos ao acaso


(sem nenhuma pressa ou pretensão):

que o amor, às vezes,
é um trem atrasado
que passa desgovernado

e só pára na última estação.


(por Filipe C.)

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Poema 92


Sobre Desatinos


Não quero mais saber
do sabido, do viável, do vencido:

viver
é por demais comprido
quando nenhum desatino

se dispõe entre o instante
e o infinito.

(por Filipe C.)

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Poemas 90 e 91


Sobre Rios


Rio
(meu espelho
mavioso e fugidio).

Diferentes naturezas,
mesma certeza:

nas nossas margens,
a vida corre presa.

Diferentes naturezas,
mesma incerteza:

somos o que fomos
ou o que há-de vir
com a correnteza?

(por Filipe C.)

Sobre Caixas de Bombom

Diante de tanta vida
(que estala o coração),

sinto falta daqueles dias
em que a felicidade toda cabia
numa caixa de bombom.

(por Filipe C.)

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Poemas 88 e 89


Sobre Decisões


(Para ter espaço)
apertei o passado
num canto da mala.

Antes de partir,
lacrei meu quarto
com o escuro dentro.

(por Filipe C.)

Sobre a Cerveja

Porque a noite
nem sempre é cuidadosa
com seus cúmplices,

insisto em beber
um pouco desse sol gelado
(com poucas nuvens),

que desce emprestando
a luz que deixa homens e deuses
gloriosamente impunes.

No copo vazio
(estranha concha provisória)

o imprevisto vaticínio
de todas as histórias.
(por Filipe C.)

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Poemas 86 e 87


Sobre Angústias


Será que Deus
vai um dia me redimir

de todos os pecados
que eu nunca cometi?

(por Filipe C.)

Sobre Casas Antigas

Gosto da sabedoria
das casas antigas:

nem todas as janelas
abrem facilmente.

E mesmo as que o fazem
precisam de um suporte

para não fechar
de repente.

(por Filipe C.)

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Poemas 84 e 85


Sobre Limites


Não me dês o céu,

que o céu é limite
de tudo que existe.

E a vida
(ah, a vida...)
a vida é muito mais querida

quando
sonhadoramente

desmedida.

(por Filipe C.)

Sobre Mudanças

O amor
trouxe suas malas

e fez minha alma
mudar de casa.
(por Filipe C.)

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Poema 83


Sobre Encantos


Assim me são teus olhos:

uma terra doce e estranha,
repleta de montanhas
(todas coloridas,
tocando o céu);

uma cidade
tomada por crianças
(todas sorrindo
num imenso carrossel).

(por Filipe C.)

terça-feira, 29 de julho de 2008

Poemas 81 e 82


Chegamos a nove mil visitas de computadores diferentes! Obrigado pela força, pessoal! Boa semana a todos!

Sobre Mensagens em Garrafas

Algum tempo
fiquei (sozinho) na praia.

Mas não imaginava navios,
nem apreciava o sol

que devagar se deitava
refletido nas águas.

Esperava
uma só notícia, uma só carta,
daquelas que atravessam

o oceano inteiro
dentro de uma garrafa,

me pedindo pra nadar
até o fim do mundo.

Porque só eu poderia salvá-la.

(por Filipe C.)

Sobre Idas e Vindas

Não discuto
mais com o destino.

Já aprendi a aceitar

o que o mar traz à praia
e o que ele leva consigo.

(por Filipe C.)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Poemas 79 e 80


Sobre Beijos


A gente beija
de olhos fechados

porque no escuro
tanto faz o mundo:

(só sobra
o que é de dentro).

E quando
o que é de dentro
é assim tanto, meu amor,

é preciso (de imediato)
partir em busca
dos teus lábios


(sem nenhum pudor).
(por Filipe C.)

Sobre Nuvens

Já não temo
dias nublados.

Dentre
tantas nuvens

(algumas até pesadas)

há uma que
traz teu rosto

(e me acalma).
(por Filipe C.)

terça-feira, 15 de julho de 2008

Poemas 76, 77 e 78


Sobre Achados e Perdidos


Volto pelos mesmos caminhos,
a procurar-te em tudo
que me era querido.

Em nenhuma
parte te encontro.

(em cada uma te crio)

(por Filipe C.)

Sobre Vícios

Não há nada
mais triste nessa vida

do que uma memória
dependente de fotografias.
(por Filipe C.)

Sobre Conversas


Descobrimos (juntos)
que deixar tudo pela metade

às vezes
é a melhor maneira
de manter acesa a saudade.
(por Filipe C.)

terça-feira, 8 de julho de 2008

Poemas 73, 74 e 75


Olá, pessoal!
A partir desta semana, prometo responder a todas as perguntas deixadas na parte de comentários, tá? Se vocês olharem a postagem de semana passada, verão que isso já foi feito!
Boa semana a todos!


Sobre Ondas

Porque cada onda
(na verdade)

é só a vontade
do mar

de abrir asas e voar.
(por Filipe C.)

Sobre Casacos

É inverno.

(preciso vestir
teu abraço).
(por Filipe C.)

Sobre Vozes

Minha voz
anda tão fraca

(nem chega mais
aos seus ouvidos).

Mas de tanto
não conseguir falar

meus olhos
já aprenderam a suspirar

(agora só falta você ouvir...).
(por Filipe C.)

terça-feira, 1 de julho de 2008

Poemas 71 e 72


Sobre Quadros

"(...) é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói."
(Carlos Drummond de Andrade)

Não a ausência
do quadro na parede;

Mas a lembrança que ali ficou:
(indelével retrato da minha sede).

(por Filipe C.)


Sobre Tesouros

Vai, se pressentes
tesouros escondidos.

Vai, se queres ir.

Mas não me procures
se perderes o mapa:

(também eu sei partir).
(por Filipe C.)

terça-feira, 24 de junho de 2008

Poemas 68, 69 e 70


Três poemas bem concisos hoje: não estranhem a ausência de título e de parênteses!
Obrigado pelas mais de oito mil visitas ao blogue e pelos mais de vinte e cinco mil cliques neste endereço.
Boa semana a todos!


I
Teus olhos azuis
na tua pele morena

(como pode o mar inteiro
caber exato nessa cena?)

(por Filipe C.)

II
De hoje em diante
será preciso muito agora

pra acabar de vez
com esse tal de antes.
(por Filipe C.)

III
Amor sem nuvens:

alma ancorada
num porto azul.
(por Filipe C.)

terça-feira, 17 de junho de 2008

Poemas 66 e 67


Sobre Suspeições


Saio à rua
como quem se oculta
(ando pelos cantos, sem chamar atenção).

Não confio
nas intenções da vida:

já anda pesada
a sacola em que levo o coração.

(por Filipe C.)

Sobre Lápis de Cor

Espalho meus lápis de cor pelo chão.

Há tanto tempo
entendo que precisas de espaço...

Mas eu queria
te desenhar um desenho bem bonito

em que eu mesma me fizesse
céu, sol, passarinho, vento, moinho

(ou algo qualquer que te mostrasse
como seria leve minha vida em teu caminho).

Para que tudo fique perfeito,
não me importa usar toda minha caixa,

minhas folhas e borrachas,
porque (além de ti) não desejo nada.

A única coisa que me faz hesitar
é esse medo de o tempo

apagar meu desenho
antes que o queiras olhar
.
(por Filipe C.)

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Poema 65 - "Edição Especial"

Olá!
Há um ano escrevi aqui o "Sobre Tempestades", poema de que eu gosto muito, mas que fala sobre separação, o que de maneira alguma combinava com a data em que foi publicado. Isso de certa forma me incomodou e, para tentar me redimir, neste ano resolvi fazer uma edição especial do blogue. Espero que vocês gostem...Enamorados ou não!


Sobre Namoros

Ouve:
agora tu não podes mais me deixar.

Porque é só pelo teu corpo
que conheço a medida do meu;

e sem teus olhos, sem teu rosto,
meu próprio espelho se perdeu.

Ouve:
teu lugar não é mais a meu lado.

Porque agora
tu já estás em mim.

E não podes me trair.

Afinal, como seria
ser quem sou (e viver comigo)

se de mim mesmo estivesse separado?
se de mim mesmo fosse temido ou odiado?

Ouve:
eu te amo.

E porque te amo
mais do que alguém imaginaria,

desaprendi todos os meus limites,
e hoje sou pessoa além do que merecia.
(por Filipe C.)

terça-feira, 10 de junho de 2008

Poema 64


Sobre a Pureza

Amo quia amo, amo ut amem*
Será que é preciso
que tudo na vida tenha
um sentido (um objetivo, uma razão)?

Será que uma cor só é cor
nas asas de uma borboleta?

Será que um perfume só é perfume
na flor mais bonita da estação?

Se perfumes e cores
não precisam de borboletas e flores,

então também meu amor
(seja mocinho, seja bandido)
não precisa ser correspondido:

ele pode, de verdade, viver sozinho
sem receber sequer aprovação.
(por Filipe C.)

*amo porque amo, amo para amar

terça-feira, 3 de junho de 2008

Poema 63


Sobre o Azul
ma è proprio colpa tua
se provo un brivido blu
Tua voz.
Cor de impossível mar.
Arrepio azul.

Não navego.

Mergulho.

(até ficar sem ar)
(por Filipe C.)

terça-feira, 27 de maio de 2008

Poema 62


Sobre o Vento


Ah, entregar-me ao firmamento
e ser pra sempre esse leve vento...

Poder teus olhos fechar
(pra nenhum cisco te machucar)

e devagar tocar teu rosto,
e desarranjar teu cabelo,

e envolver teu corpo,
e arrepiar teus pêlos

e depois partir
(sem culpa ou medo)

levando só teu perfume
(lembrança que amanhece meu mundo inteiro).

(por Filipe C.)

terça-feira, 20 de maio de 2008

Poema 61


Estou de volta!

Nesse recesso, bateu-me uma curiosidade danada de saber de que poema do blogue cada um aqui gosta mais... Quem tiver tempo (e paciência) pode deixar um comentário com a resposta?


Boa semana a todos!


Sobre Aparências

Quem me vê assim sozinho
não sabe nada de mim...

Aqui dentro
mora mais que um vazio.

Aqui dentro
mora um atentado, um grito, um perigo
a perturbar todo dia o meu ouvido,

para lembrar que às vezes
é preciso correr certos riscos,

é preciso afiar coração, dentes, unhas,
e sair, sem medo, à rua

(pronto para amar ou morrer).

(por Filipe C.)

terça-feira, 13 de maio de 2008

Aviso


Meus amigos,

Obrigado por continuarem a acompanhar este blogue, mesmo durante o "recesso". A média mensal de visitas continuou quase a mesma, o que me deixa muito feliz.

Espero que tenha dado tempo de vocês lerem os poemas mais antigos!

Semana que vem, prometo tentar voltar a publicar aqui. Volto esta semana a escrever!

Abraços a todos! Obrigado pela paciência!

terça-feira, 1 de abril de 2008

Poema 60 - Fim da Primeira Fase


Eis que
As Outras Palavras comemoram aniversário!

Este blogue iniciou suas atividades há um ano, sempre com atualizações semanais. Sessenta poemas depois, mais de vinte mil visitas depois, é chegado o momento da pausa; o momento da reflexão.


Até o início de maio, não publicarei mais poemas inéditos às terças. Preciso de tempo para pensar no que estou fazendo.


Não pretendo abandonar o blogue. Pelo contrário, creio ser o momento ideal para conversar com quem visita este espaço, para responder a dúvidas ou curiosidades. Estou à disposição de vocês.


Boa semana a todos!


Sobre Ironias

Sabe o que é
mesmo triste?

É ter
sempre por perto

amores
que não deram certo

ou que nunca tive.

(por Filipe C.)

terça-feira, 25 de março de 2008

Poema 59


Seis mil visitas de computadores diferentes... Mil em um mês. Quase vinte mil acessos desde junho do ano passado, segundo o
blogpatrol. Mais um vez, obrigado! Boa semana a todos!

Sobre Segredos

O meu amor por ti
navegou pelos meus sonhos
sem se dar conta das suas margens;

foi além de seus próprios limites:
não quis passear, mas partir em viagem.

O meu amor por ti
calou todos os pássaros
que anunciam a madrugada;

não quis encontrar a luz do dia:
ficou satisfeito só em imaginar como seria
seu rosto perfeito refletido nas águas.

O meu amor por ti
acabou refém do seu próprio reino:

teve medo de conhecer-te de perto,
acabou escondido (mas protegido)
atrás das paredes de seu solitário castelo.

(por Filipe C.)

terça-feira, 18 de março de 2008

Poema 58


Sobre Chuvas e Luzes


Meus sonhos me deixam e vagueiam
por praias machucadas pela chuva.

Praias onde
não há sol, nem estrelas, nem lua;

onde não há sequer a amargura
de um pequeno barco à deriva.

Só sonhos. Só chuva.

Enquanto isso,
na lacuna que em mim fica,

a lembrança tua se instala
(e me ilumina).

(por Filipe C.)

terça-feira, 11 de março de 2008

Poema 57


Sobre Descobertas


É bom
mergulhar de olhos abertos,

para nunca
ter medo de nenhum mistério.

(sei que, no fundo do mar,
há um barco que leva a ti)

Amar, no fim de tudo,
não é conquistar o mundo;

é, simplesmente,
ter a coragem de descobrir.

(por Filipe C.)

terça-feira, 4 de março de 2008

Poemas 55 e 56

Sobre Partidas

Vais porque és todo mar,
e já não te contentam
minhas praias desertas,
repletas só de areia, só de mim.

Vais porque és todo vento,
e já não te contentam
meus portos (assim seguros,
assim bentos, assim sem fim).

Mas antes desta nova partida,
deita um pouco no meu colo,

faz teu mar
dos meus olhos,

torna meus braços
teu barco

(e leva, com todo cuidado,
um sonho meu pra navegar).

(por Filipe C.)


Sobre Encontros

Perdoa-me se não falo muito
quando estou contigo.

(é que me perco nos teus olhos
quando tento guardá-los aqui comigo)

(por Filipe C.)

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Poema 54


Sobre Corações e Navios


Para navegar,
não preciso de dias claros:

basta-me um coração iluminado
(desses que não tombam assim tão fácil).

O bom marinheiro
sabe o momento de recolher as velas,
para que seu navio se conserve inteiro.

O bom marinheiro
sabe que uma tempestade

não é coisa que se cria ou se adia;
é algo que cresce dentro da gente

(e que, às vezes, até nos abriga).

(por Filipe C.)

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Poema 53


Mais de cinco mil visitas desde junho do ano passado. Obrigado pelo carinho e pelo respeito.
Boas leituras!

Sobre Espumas


...é que a tua companhia
me faz cada vez mais sozinha,

e toda vida precisa
de alguma coisa sempre nova
(que teu rosto não anuncia)

de alguma coisa ainda fresca
(acesa como a luz do dia)

de algo como o vento
que passa em silêncio sobre o mar,
cavalgando brando (sereno navegar),

sem medo de sereias ou dunas,
até se entregar em espuma
às areias de um olhar...

(por Filipe C.)

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Poemas 51 e 52


Sobre Praias


Vem agora, ó bem-amada...

Dentro de mim,
mora uma praia ensolarada,
um mar imenso e algumas vagas.

Às vezes, tu mesma
surges dessas águas
e vais à areia me namorar.

Mas o carinho, que me dás,
ó bem-amada,
tem o peso da tua ausência...

(tua boca, ainda molhada,
tem o sabor das minhas lágrimas...)

(por Filpe C.)

Sobre Caminhos

Fugi, para além da curva sem fim.

(E hoje, perdido em desatinos,
caminho entre os labirintos
da solidão que há em mim)
(por Filpe C.)

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Poemas 49 e 50


Sobre Sonhos

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil.
(Carlos Drummond de Andrade)

O céu plúmbeo nada anuncia.

Nem a chuva
(outrora, memória; agora, apatia).

Mas chega um momento
em que (sem heroísmos ou egoísmos)
é preciso inventar um pequeno barco no ar

(ou um outro sonho qualquer
que nos arranque o chão dos pés).

Chega um momento
em que não se pode aguardar o vento,
em que temos que nos arremessar ao mar.

Porque é urgente salvar o amor.

Chega um momento em que é urgente amar.
(por Filipe C.)


Sobre Rosas

A certeza da lágrima não fez murchar essa rosa.
Tão delicada e clara (tudo mais era nada!),
ela só se deslumbrava com a hora de fenecer.

(porque se sabe finita, cada pétala ganha
mais cor ainda ao som do entardecer...)

Mas as minhas lágrimas não são certas,
nem minhas rosas estão despertas...

Sem ocaso, meu mundo
(infinito e opaco)
ainda espera por você.
(por Filipe C.)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Poemas 47 e 48


Sobre Vazios


Hoje, não sou mais
que a nuvem desfeita ao vento,
que a folha perdida no chão.

Hoje, não sou mais
que o silêncio (vestido de preto),
que o frio cadente desta estação.

Hoje, não mais existo
porque faltas tu em mim

e essa ausência é menos
um alento que uma pesada cruz.

Hoje, sou mais como um brilho intenso
que se apaga (num momento)
em ambos os lados da luz.

(por Filipe C.)

Sobre Rupturas

Nos seus olhos
tudo o que eu poderia ter amado.

Nas minhas mãos (guardados)
os dados viciados do nosso jogo.

No coração
o som sem voz das nossas histórias.

E no serenar dos seres e das coisas
(exatamente naquele átimo em que
tudo é silêncio e expectação),

ela (num soluço) arrombou
a porta surda e saiu pela rua,
sem pisar uma única lágrima...

(por Filipe C.)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Poema 46


Sobre o Pôr do Sol


A meu favor,
tenho a cor desse pôr do sol.

Tenho o sonho,
as palavras
e essa capacidade de voar
sem olhar as próprias asas...

A meu favor,
tenho também o teu retrato


(mesmo tão delicado, ele sustenta
todas as paredes do meu quarto).

(por Filipe C.)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Poemas 44 e 45


Hoje quase não tivemos poemas aqui. Graças à intervenção de quem gosta de verdade deste blogue (para adotar a escrita portuguesa), fui intimado a publicar não um, mas dois poemas com estilos bem diversos. Boas leituras e boas semanas!


Sobre Entregas

Cá entre nós,
se ao final desta história estaremos todos sós,
de que adianta reclamar, chorar, lutar até perder a voz?

Por que, então, não abraçar as coisas feias
e esquecer as nossas dores (e as alheias)?

(já me disseram que só assim é possível
a paz de existir, sem se ferir...)

Mas o problema é que (no fundo, no fundo)
quem vive de verdade se entrega a tudo.

(e, quem sabe?,
toda lágrima vale a pena
se a alma não é serena)

(por Filipe C.)

Sobre Artistas

Muitas vezes manchadas por desastradas experiências cotidianas
ou rasgadas por mãos que (inocentes) nos esfarelam as esperanças,
muitas vezes amareladas (pelo tempo ou pelo medo)
ou marcadas por dobras, necessárias para embrulhar terríveis segredos,

somos todos folhas em branco – livres, infinitas de futuro –
prontas para serem preenchidas com letras e cores
(ou para podermos passar a limpo
as histórias das nossas próprias dores )

Podemos escrever nelas
o nosso destino
com as nossas mãos...

Mas por que parece ser minha sina
ficar à espera de algum artista
que me desenhe a vida
num arranco de inspiração?
(por Filipe C.)