Queridos e queridas, em 2010, este blogue passa a ser atualizado sempre às quartas-feiras com poemas inéditos. A variedade temática promete ser maior: aqueles que me acompanham desde o princípio perceberão, em alguns casos, um tom ainda mais simbólico nos textos. Espero que gostem deste primeiro conjunto a seguir! Beijos e abraços!
Educação pela Terra – meditação em cinco poemas
1.
Não carrego mais
aquele tremor tímido
de rio nos lábios.
Não é o sonho (líquido)
a nossa primaz matéria:
é a terra.
2.
Que ventos e pássaros
desperdicem seus voos:
alma e corpo,
eu aqui me revolvo.
Com ou sem arados.
3.
Para lavrar,
é preciso ter olhos duros;
olhos de ver muito,
de ver fundo;
olhos de não achar.
4.
A terra, se bem trabalhada,
alvorece a cada toque da enxada:
tudo lhe é recente e verdadeiro.
É da terra
viver o instante:
não o claro e derradeiro,
mas este constante-primeiro
(a promessa do devir, o denso nevoeiro).
5.
A
terra
em si
se renova.
Ela não precisa ir ou vir,
tampouco migrar ou fugir.
A arte da terra
é poder
(a qualquer dia)
num surto de vida
docemente explodir.
(por Filipe Couto)
* O título faz referência, obviamente, ao famoso conjunto "Educação pela Pedra", do mestre João Cabral de Melo Neto.
1 - Para comprar meu livro ("Breves Cantares de Nós Dois"):