terça-feira, 9 de julho de 2013

Poema 167

Papai, tem uma moça estranha lá fora. Foi o vento que trouxe. Abro a porta? 
– Pergunte primeiro de onde vem, pra onde vai, o que quer, o que traz. 

Papai, pergunto, e ela não me diz nada. Pára, e sorri com os olhos, clareia o que é madrugada. Devo chamá-la? 
– Mande-a embora... Que coisa posso querer com alguém trazido pelo vento? Que não gosta de palavras?

Meu pai gostava de tudo claro e certo; 
eu gostava de mistério, 
de fazer sombra ganhar asa. 

Ainda hoje, quando venta, 
faço de conta que é comigo
e espio, menino, a janela: 

quem sabe ela ainda me espera? 
(por Filipe Couto)