tag:blogger.com,1999:blog-62747400246296808812024-02-20T16:47:45.345-03:00As Outras PalavrasBlogue com poemas escritos por Filipe Couto.Unknownnoreply@blogger.comBlogger218125tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-89669938930239065472015-07-27T16:00:00.002-03:002015-07-27T16:00:33.170-03:00Intervalo de prosaEle acreditava no Amor. Mas também não acreditava. Entendia-o como essência, mas não como experiência; como teoria, não como fato. Explicou-me:
<br />
<br />
- Veja você a complicação da coisa. Ela chega todo dia às 16h. Ontem, chegou às 20h. Fiquei preocupado, é claro. Mas o que poderia dizer a ela? "Olha, isso não se faz: você me preocupou...", "Não podia ter me avisado?", "Tá pensando que isso aqui é zona?". Ou talvez agir como se nada houvesse passado: "Vamos comer alguma coisa?". Posso, com delicadeza, dizer o que sinto e, com sabedoria, escolher a intensidade com que o revelo. Mas como saber o grau?
<br />
<br />
Você pode imaginar que uma cobrança exagerada pode sufocar o outro, e que uma demonstração de naturalidade pode sufocar a mim; então, o melhor é revelar um pouco da minha angústia, sugerindo que algo seja diferente numa próxima vez: "Você chegou! Que bom estar tudo bem; quando for assim, me avisa, só pra que eu não me preocupe?"
<br />
<br />
Mas e se o outro está precisando na verdade é da minha angústia intensa, pra se sentir protegido e cuidado? E se o outro quer é a naturalidade, por estar com outras pressões, e precisar apenas de companhia? Ele não é aquilo que eu imagino que seja ou aquilo que eu gostaria que fosse. Ele é.
<br />
<br />
A tragédia, amigo, é que quero dar ao outro aquilo tudo que há em mim, mas sei que não posso, por muito querer bem. Então meço palavras. Sofro, choro, mas evito que me olhem. Se for inevitável que vejam, ponho óculos. Digo estar tudo bem, mas meu corpo diz o contrário: rejeito o toque, o beijo, a conversa carinhosa. Puno-o, por ele não ter a capacidade telepática de ler o que está escrito dentro de mim.
<br />
<br />
Preciso do "Está tudo bem?", "Aconteceu alguma coisa?", para que o outro reconheça meu esforço em calar, por muito amar. Você sabe: o amor precisa ser visto. Mas, ao fazer isso, estrago o esforço, torno o outro responsável pela minha tristeza exatamente porque não quero responsabilizá-lo por ela.
<br />
<br />
Anulo-me, para fazer nascer o outro e, ao fazer isso, anulo-o. Liberto-o e o faço refém.
<br />
<br />
No amor, podemos até ser maduros na teoria, na elaboração do discurso, na percepção do certo e do errado; mas sempre somos crianças na prática. Com a pureza, a falta de jeito, a inconsequência e as limitações que isso traz. <br />
<br />
Um emaranhado confuso de contrários.
<br />
<br />
É isso, amigo: acredito tanto no Amor, que não sei se ele pode existir.<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-86660596071026203102015-07-26T16:02:00.000-03:002015-07-27T16:02:47.104-03:00Poema 243<em>Acendi há pouco as luzes do quarto,</em><br />
<em>e não notei alguns de seus vestígios.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Não há mais aquela bagunça que você fazia;
</em><br />
<em>não há mais retratos, roupas, livros.
</em><br />
<em></em><br />
<em>"O lugar mais sombrio é sempre embaixo</em><br />
<em>
da lâmpada", diz um provérbio chinês antigo.
</em><br />
<em></em><br />
<em>E lá estava eu diante da tua clara despedida, </em><br />
<em>
sem conseguir enxergar que não sou mais seu;
</em><br />
<em></em><br />
<em>e que você não é minha</em>.
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-35833173894788351722015-07-21T16:46:00.000-03:002015-07-21T16:46:10.157-03:00Poema 242<em>Não é brincadeira:
</em><br />
<em>o amor me deixou em carne viva;
</em><br />
<em>qualquer carinho hoje já me dá agonia.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Vá lá:
</em><br />
<em>pode ser que um novo amor me dê outra pele,
</em><br />
<em>e eu enfim consiga aceitar uma ou outra carícia.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Mas é próprio do amor despelar-nos em água quente
</em><br />
<em>para realçar de novo cada uma das nossas feridas.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Então,
</em><br />
<em>s</em><em>ó vejo um jeito de escapar dessa armadilha:
</em><br />
<em>achar alguém que nos leve consigo, dentro de si,
</em><br />
<em></em><br />
<em>que, mesmo em profunda dor ou desencanto, </em><br />
<em>
nos ofereça abrigo e companhia</em>.
<br />
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-69402193735143239932015-07-13T19:36:00.000-03:002015-07-20T19:36:59.487-03:00Poema 241<em>Acabei de topar com Deus. </em><br />
<em>
Ele ofereceu dois ou três conselhos
</em><br />
<em>e perguntou o que eu queria. Disse-Lhe eu:
</em><br />
<em></em><br />
<em>"Há um coração em que penso todos os dias
</em><br />
<em>e hoje ele deve estar por aí, perdido em más companhias.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Deus, por mais beijos e apertos que haja, </em><br />
<em>
que todos ela ache sem gosto e sem graça.
</em><br />
<em></em><br />
<em>E, quando for hora de sair de casa pela manhã
</em><br />
<em>ou de voltar a ela depois da noitada,
</em><br />
<em></em><br />
<em>que ela respire, Senhor, a primeira luz </em><br />
<em>
por Ti enviada
</em><br />
<em></em><br />
<em>e, sem perceber, </em><br />
<em>
para dentro de si me traga.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Mais nada".</em>
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
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<br />
<em>Gastei tanto meus
</em><br />
<em>olhos em lágrimas, que hoje
</em><br />
<em>já não enxergo nada</em>.
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-77357008532242280412015-06-30T19:29:00.000-03:002015-07-20T19:30:19.014-03:00Poema 239<em>No amor,
silenciam-se todas as palavras.
</em><br />
<em>Há só uma luz que arde nos lábios e nos olhos:
</em><br />
<em></em><br />
<em>"Entra, aqui é teu lugar;
acha teu espaço, tua cadeira;
</em><br />
<em>corre os jardins, colhe o que queiras;
</em><br />
<em></em><br />
<em>e se precisares de paz, </em><br />
<em>meu amor,
</em><br />
<em>dorme sob minhas estrelas</em>."
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
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</em><br />
<em>Coisa Amada. Por isso, te suplico. Vem comigo:
</em><br />
<em>dentro do amor, há um barco para navegar.
</em><br />
<em></em><br />
<em>E se o mundo não quiser nos deixar partir,
</em><br />
<em>por muito precisar de nós dois pra se exibir,
</em><br />
<em>dentro do amor, mora uma canção de ninar.
</em><br />
<em></em><br />
<em>E aí a gente pode se esquecer de tudo, sonhar junto,
</em><br />
<em>sem pressa ou medo, a vida toda num minuto.
</em><br />
<em>Dentro do amor, eu e você, em qualquer lugar</em>.
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
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</em><br />
<em>sem nenhum motivo aparente.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Quantos de vocês já não terão
</em><br />
<em>passado por algum momento assim?
</em><br />
<em></em><br />
<em>Se entendem o que eu agora digo,
</em><br />
<em>sabem que não falo de solidão
</em><br />
<em>(que ela pressupõe algo que foi tido,
</em><br />
<em>e eu sei lidar com esquecimentos de mim).
</em><br />
<em></em><br />
<em>O que sinto é de outra espécie. </em><br />
<em>Eu nada tive,
mesmo quando achei que tivesse.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Sinto-me plenamente adiado:
</em><br />
<em>sangue e nervos dormindo.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Sou pela metade. </em><br />
<em>
Uma noite de domingo</em>.
<br />
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
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</em><br />
<em>enterrada, mas paciente;
</em><br />
<em></em><br />
<em>afastada da luz desde o princípio,
</em><br />
<em>sem medo do escuro por ofício.
</em><br />
<em></em><br />
<em>E também penso que a noite chega para todos, para tudo:
</em><br />
<em>de fora para dentro, das bordas para o centro, para o fundo.
</em><br />
<em></em><br />
<em>A escuridão nos empurra para uma solidão de semente:
</em><br />
<em>a pressão da terra em volta, a estação certa que demora,
</em><br />
<em>o úmido dos olhos, o húmus do coração em conserva.
</em><br />
<em></em><br />
<em>Lição da semente: ela nunca desiste. Espera. </em><br />
<em>
E, por fazê-lo, germina, rompe em vida. Acerta</em>.
<br />
<div style="text-align: center;">
</div>
<div style="text-align: center;">
<strong>(Filipe Couto)</strong></div>
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Faz quase um ano que ela se deu ao mundo. Não aceitou companhia, nem explicou muita coisa. Pegou uma canoa pra navegar entre lágrimas e remou, remou, remou até uma terra firme qualquer, além de qualquer saudade. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O povo todo se admirou daquela providência. Nem eu, que tão bem a sabia, tinha já me percebido dessa urgência de partida. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Ela está lá ainda. E ninguém mais pergunta ou assunta sobre o caso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Mas eu permaneço: olho mirando uma mudança no movimento das águas. Pois que o tempo é coberto com uma colcha trançada de encontro e desencontro. A vida que se demora passa; a vida que passa se demora. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Há lá fora, agora, uma esperança de chuva. O cheiro de terra molhada que ela gostava. (Nessa outra terra há também?) </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O rio vai, uma vez mais, estar cheio. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E se ela, por percebimento, quiser remar de novo, e o barco estiver velho, os braços sem força, os olhos embaçados? </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
E, por isso, a dor hoje é enorme, aberta. Uma ferida vermelha que lanço ao céu e se alastra, feito tarde de sol. Farol. </div>
<div style="text-align: right;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i>Existíssemos de verdade não faríamos </i><br />
<i>tantas bobagens, não desperdiçaríamos </i><br />
<i>tantas oportunidades por motivos bestas. </i><br />
<br />
<i>"Ah, hoje tô cansado!", "Nossa, como é longe!", </i><br />
<i>"Isso não é pra minha idade!", "Se depois </i><br />
<i>eu me arrepender, já vai ser tarde!" </i><br />
<br />
<i>A vida cabe na palma da mão de um mágico </i><br />
<i>que a faz desaparecer e ressurgir atrás de uma orelha. </i><br />
<br />
<i>Tem gente que sequer acha graça; </i><br />
<i>tem gente que conhece o truque </i><br />
<i>e ainda assim se finge surpresa. </i><br />
<br />
<i>De qual lado você está? </i><br />
<i>É disso que depende sua humana naturez</i>a.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i>não consigo escrever. </i><br />
<i>Tenho tema, palavras, </i><br />
<i>mas falta coragem: </i><br />
<br />
<i>colocar no papel vai doer. </i><br />
<br />
<i>Ai, coração que bate, </i><br />
<i>e machuca o peito que quer paz. </i><br />
<i>Abro as mil janelas do quarto, </i><br />
<i>e ainda assim me falta ar</i>.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-4806125847608947652015-03-20T16:32:00.000-03:002015-03-20T16:32:00.367-03:00Poema 233<i>Economizem água, <br />empresários do agronegócio:<br />preciso de luz em casa.</i><br />
<i><br />Toda vez que a apago,<br />acende-se um escuro<br />que me faz ver tudo,</i><br />
<i><br />e não cala</i>.<b> </b><br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i><br />quem nunca chamou seus fantasmas (mortos<br />ou vivos) pra chorar uma sofrência desesperada;</i><br />
<i><br />quem nunca fez o coração de colete e se atirou <br />ao mar para salvar um peixe que se afogava;</i><br />
<i><br />todos esses estão condenados à vida de verdade.<br />Aos demais, resta-nos a melhor parte: </i><br />
<i><br />o que não existe, a vertigem, o perigo.<br />E aí o amigo ressabiado pergunta: "Mas isso vale a pena?"</i><br />
<i><br />E eu respondo de pronto: "Claro! </i><br />
<i>É lá que mora o poema!"</i><br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i><br />(Fosse a vida como eu queria, guardaria, <br />ainda, um ou outro momento pra ser <br />bem infeliz: já me apeguei aos meus erros,<br />sentiria falta de remoê-los – dia não, dia sim.)</i><br />
<i><br />Como a vida não foi do jeito que quis<br />e, se fosse, não saberia enfim o que fazer, <br />aceito tudo de bom grado, seja o que for:</i><br />
<i><br />pode ser gozo ou lamento, você ou cem pedras.<br />"Deus dá a quem se deu", "quem não faz leva",<br />escolha seu ditado: um deles vai dar caldo, e não merda</i>.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i><br />Joguei uns fora, <br />outros empurrei prum canto<br />e os demais fui empilhando, empilhando, empilhando.</i><br />
<i><br />Como a torre estivesse já alta, resolvi ver no que dava:<br />somei aos problemas umas tentativas fracassadas de lidar<br />com a vida, além de uns complexos que desde criança eu tinha.</i><br />
<i><br />Terminei tudo agora à noite,<br />e ficou bonito pacas!</i><br />
<i><br />Vejam, senhoras e senhores, <br />este meu grande monumento erguido</i><br />
<i><br />ao nada</i>.<b> </b><br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i><br />Não foi tão fácil quanto parece, não!<br />Vocês não imaginam quanto espinho, quanto <br />fogo, quanto frio havia no caminho que escolhi.</i><br />
<i><br />Era toda hora o coração gritando "Vai!",<br />a memória alertando "Pra que isso, chega!".<br />Mas consegui, amigos. Cumpri o desafio.</i><br />
<i><br />Não sei se meu corpo agora funciona melhor,<br />se consegui com isso perder alguns quilos.</i><br />
<i><br />Mas, acreditem, recomendo a todos esse esforço:<br />a paisagem lá de cima da gente é linda</i>.<b> </b><br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i><br />Outro dia mesmo meu coração <br />pulou pra boca... Pois não é que vi <br />aquela maldita – tsc, você sabe <br />quem é – na Sapucaí? Na avenida?</i><br />
<i><br />Tô numa revolta que não tem fim:<br />ela NUNCA gostou de Carnaval,<br />achava tudo chato, coisa e tal....</i><br />
<i><br />Oi! Alô! Responde aí, por favor!<br />Já sei! Você tá de caso com ela!<br />Responde! Você não é homem! Alô?!</i><br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
<div style="text-align: left;">
<span style="font-size: x-small;"><i>*decassílabo.</i></span></div>
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<i><br />Para não ser feito de idiota<br />pelas concessionárias de energia,<br />conserve acesa sua luz própria.</i><br />
<i><br />Há uma escassez de </i><br />
<i>tudo hoje em dia.<br />Até de vida</i>.<b> </b><br />
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<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-75439544312696190502015-03-13T16:18:00.000-03:002015-03-18T16:20:20.700-03:00Poema 226<i>Moro numa rua sem saída, quieta,</i><br />
<i>onde não são precisos contorcionismos</i><br />
<i>para enxergar, no alto, o céu em aquarela.</i><br />
<br />
<i>No meio da noite, entretanto, acorda-me sempre</i><br />
<i>um mesmo passarinho, de voz fina e incansável.</i><br />
<i>(Agora mesmo ele me dá a honra de um concerto,</i><br />
<i>duríssimo de ser entendido e um tanto desafinado.)</i><br />
<br />
<i>Esse apelo do passarinho sensibiliza um cão, que ladra,</i><br />
<i>e logo outros cães e passarinhos, em uníssono, </i><br />
<i>esfaqueiam sem pena a madrugada.</i><br />
<br />
<i>A convulsão continua até que, </i><br />
<i>por obra de algum acordo secreto e grave,</i><br />
<i>eles param. Fundem-se à noite.</i><br />
<br />
<i>(O que houve? O que terá havido?)</i><br />
<br />
<i>Talvez eles, como eu, em algum momento </i><br />
<i>também tenham percebido o perigo de acordar a noite,</i><br />
<i>liberar seus fantasmas e tudo mais que não se pode ver,</i><br />
<i>mas que fica guardado, escondido, no silêncio de uma estrela.</i><br />
<br />
<i>Porque pode ser que da noite despertada</i><br />
<i>não haja mais volta: estaremos todos condenados </i><br />
<i>a tatear para sempre o mais escuro de nós mesmos.</i><br />
<br />
<i>E, nesse caminho, esbarraremos apenas conosco. Sozinhos.</i><br />
<i>Lá, onde não há mais nada, senão um longo infinito</i>.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-83019873350671022372015-03-12T16:17:00.000-03:002015-03-18T16:18:00.599-03:00Poema 225<i>Vou pregar na parede um retrato </i><br />
<i>do primeiro pecado que a gente se deu. </i><br />
<br />
<i>Vou rabiscar no meu braço </i><br />
<i>um pedaço do sonho que a gente viveu. </i><br />
<br />
<i>Vou, assim, criar mais espaço </i><br />
<i>aqui dentro do meu coração, </i><br />
<br />
<i>e guardar dentro dele
uma outra invenção: </i><br />
<i>você e eu. </i><br />
<br />
<i>Agora pra sempre, </i><br />
<i>como Deus prometeu</i>.<br />
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<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-34004458759248204392015-03-11T16:15:00.000-03:002015-03-18T16:15:53.136-03:00Poema 224<i>Querem fazer um protesto </i><br />
<i>verdadeiramente digno? </i><br />
<br />
<i>Peguem essas placas </i><br />
<i>que proíbem pisar a grama, </i><br />
<i>joguem-nas no lixo, deitem e rolem, </i><br />
<i>embolem-se, joguem-se na relva </i><br />
<br />
<i>e, quando chegar a polícia, </i><br />
<i>vocês vão ver: luzes e sirenes </i><br />
<i>até ajudarão na festa. </i><br />
<br />
<i>Amar, senhoras e senhores, é </i><br />
<i>hoje em dia </i><br />
<i>o maior ato possível de rebeldia</i>.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-29910950027137427582015-03-04T16:12:00.000-03:002015-03-18T16:12:46.276-03:00Poema 223<i><b>Chega a noite, momento de oração: </b></i><br />
<br />
<i>Quando eu por acaso te encontrar nestas ruas, </i><br />
<i>Coisa Amada, proteja-me das tuas faces </i><br />
<i>(coradas, vermelhas), porque elas são flores, </i><br />
<i>e eu sou abelha: se juntas, mais que perfeitas. </i><br />
<br />
<i>E eu sei que não me notarás: tenho uns
quilos </i><br />
<i>a mais, uns cabelos brancos e uma enorme </i><br />
<i>dificuldade de começar um assunto com </i><br />
<i>alguém cuja voz (tua!) silencia tudo. </i><br />
<br />
<i>Prosseguirei meu caminho. Sem ti. Mas ainda </i><br />
<i>te procurando ao fundo de cada garrafa de </i><br />
<i>cerveja, em cada fim de tarde que apareça. </i><br />
<br />
<i>Já me embriaguei demais nesta vida, Coisa </i><br />
<i>Amada, principalmente de poesia. E não </i><br />
<i>posso continuar desse jeito, nesse </i><br />
<br />
<i>desespero...
Passa longe de mim. Agradeço. </i><br />
<i>Que assim seja</i>.<br />
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<b>(Filipe Couto)</b></div>
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<i>no Rio em chamas de agora </i><br />
<br />
<i>acarinhou os cabelos de uma moça </i><br />
<i>que conversava com seu namorado, </i><br />
<i>justo na porta do bar em que eu estava. </i><br />
<br />
<i>Ele não se sentiu enciumado. </i><br />
<i>Pelo contrário: achou graça </i><br />
<br />
<i>e, com a ponta dos dedos, </i><br />
<i>ajeitou
um fio ou outro em frente aos lábios dela </i><br />
<i>e ambos se encontraram, num beijo de novela. </i><br />
<br />
<i>Simples, corriqueiro, tolo. Eu sei. </i><br />
<br />
<i>Mas como me doeu, Coisa Amada, </i><br />
<i> ver duas almas de mãos dadas,</i><br />
<br />
<i>e não ter mais você</i>.<br />
<div style="text-align: center;">
<b>(Filipe Couto)</b></div>
Filipehttp://www.blogger.com/profile/12895104812989956259noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6274740024629680881.post-11404065575621797642015-01-21T22:58:00.004-03:002015-01-22T00:13:13.927-03:00Poema 221<i>– Você tem um ar triste... </i><br />
<i>(Ela me disse.)</i><br />
<br />
<i>– É que, no momento em que te encontrei, soube também </i><br />
<i>que já havia te perdido. </i><br />
<br />
<i>Por isso, fico assim: em permanente luto; </i><br />
<i>por nós, pelo mundo. </i><br />
<br />
<i>Deixo de lado o verão, as praias (sol e céu), </i><br />
<i>dinheiro, obrigações de filho, de amigo, </i><br />
<br />
<i>e desatino a escrever versos </i><br />
<i>que jamais serão lidos, </i><br />
<br />
<i>porque jamais os mostrarei. </i><br />
<br />
<i>Sim, sou triste. </i><br />
<i>E feliz. </i><br />
<br />
<i>É assim que vivo. </i><br />
<br />
<i>O diagnóstico não soa lá muito lógico, eu sei. </i><br />
<i>Fazer o quê...? </i><br />
<br />
<i>Somos todos únicos: sou a única testemunha </i><br />
<i>da minha própria loucura</i>.<br />
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<b>(Filipe Couto)</b></div>
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