terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Poema 163

Saibam quantos estes meus versos virem
que não desistimos da luta;

que ainda há um vento que sopra à noite
espalhando prenúncios pelas ruas;

que nos tambores de minha cidade
batem em compasso dores e alegrias
(as crianças nos sinais e o samba da nossa Vila);

que dentro da gente da minha terra
cresce um monstro, com olhos enormes (em alerta),
a devorar aqueles zumbis nos sofás, diante das tevês.

Porque à vida não se nega uma chance,
e não será deles uma gota do nosso sangue,

enquanto um sorriso puder nos comover.

(por Filipe Couto)

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Poema 162

Não, eu não posso mais. 
Não de novo.
Avisem a ela.

Expliquem que agora 
sou eu que estou em voo,

e não posso encontrá-la. 
Não olho a olho.

Supliquem para que não me chame,
que meu corpo (sonho e sangue)
não tem medo do que aconteceu (antes).

Façam, amigos, façam das suas a minha voz 
(hoje perdida em algum canto, em algum pranto)

e gritem e gritem que para sempre serei dela
e que por isso é que preciso partir
e me tornar outro.

Porque eu não posso mais.

Não de novo.
(por Filipe Couto)

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Poema 161

Novamente as horas passam 
sem propósito ou escolha, 

perdidas, 
imbricadas umas nas outras. 

Alheias ao que despertam ou cessam, 
ao antes e ao depois, 

as horas brincam de roda, 
se devoram, se renovam,

enquanto na parede da sala resiste 
(embora amarelada) 
uma foto, 

tão só lembrança de nós dois. 
(por Filipe Couto)