segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Poema 43


Sobre o Mundo

A espantosa realidade das cousas/
É a minha descoberta de todos os dias.
Alberto Caeiro
Tenho cuidado
pra não deixar minha alma
falar muito alto e atrapalhar o ritmo
com que tudo, desde o Início, se mantém.

(não me julgues: também
as flores são borboletas que
decidiram não ir mais além)

Meu coração só bate quando arranco uma parte
de algo ou de alguém e ponho em mim:
sou de tudo que existe no mundo
um voluntário refém.

(por Filipe C.)

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Poema 42

Olá!
Já expliquei aqui, neste nosso espaço, que poucas vezes a voz lírica dos meus poemas se confunde com a minha própria voz. Pra mim, a poesia é o momento da fantasia, das vidas que eu não vivi ou das que eu ainda vou viver ou das que eu vivo pelos outros. O poema de hoje, no entanto, é diferente. Talvez a tessitura não esteja tão boa. Talvez a mensagem não esteja tão bem trabalhada. Mas foi o que eu quis escrever. Ainda esta semana, eu publico aqui um outro, no estilo dos que vocês já se acostumaram a ler. Hoje, com a sua licença, vai este aqui.
FELIZ NATAL!

Sobre o Natal

A memória dos meus dias de criança
bate mansa hoje à minha porta.

Já não me importa mais ganhar brinquedos:
embora creia ainda ser um menino
(pois tenho medo de crescer sozinho),
não perco o sono, nem acordo cedo
na manhã de Natal, à busca do rastro
de um improvável Papai Noel.

Tudo de que eu preciso pra ser feliz
é ter as mãos sempre sujas de giz,
cuidar da minha família e dos meus amigos
(na terra e no céu)
e poder brincar com o lápis
num pedaço de papel.
(por Filipe C.)

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Poema 41


O poema de hoje é bem antigo... O estilo, inclusive, é diferente... Espero, no entanto, que seja também do agrado de alguns de vocês!
Boa semana a todos!

Sobre Preços

Quanto custa a paz, o sonho
(a paz do sonho),
o impulso, o orgulho?

(e pular teu muro sem fazer
barulho quanto é que custa?)

Quanto custa ter um prato de arroz com feijão,
segurar a mão da pessoa amada,
passar o dia todo na rede,
pendurar um quadro lindo na parede,
encontrar um lugar escondido pra pensar,
abraçar a noite, a estrela, o mar?


(será que o custo depende
da aparência do embrulho?)

Me diz quanto é que custa...

Quanto custa o trabalho, o tempo
(trabalhar o tempo),
o empenho, a busca?

(e o teu abraço,
que tudo cura, quanto é que custa?)

Que vale mais?
Um inesperado beijo,
o sorriso de uma criança no recreio,
torcer pelo Flamengo no Maraca cheio,
um cafuné, o cheiro quente do café,
beber com os amigos, fotografar um sorriso,
acordar tarde, acabar com a saudade,
ou ganhar uma promoção justa?


Me diz quanto é que a vida custa...

(por Filipe C.)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Poema 40


Sobre Bonecas

A boneca de pano,
mesmo depois de anos
esquecida num canto,
ainda não consegue cair no sono...

(será que ela ainda espera um campeão
vir libertá-la das suas amarras
feitas com fios de algodão?)

Minha boneca de pano,
deixa-me hoje te embalar
ao som do meu coração:

também eu não durmo porque
tenho medo de entrar no escuro
que desperta a solidão...


(por Filipe C.)

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Poema 39

Sobre Pipas
"Hold me closer tiny dancer"
Elton John
Eras a só minha bailarina,
quando a nossa caixinha
de música emudeceu...

Eras a só minha última figurinha,
aquela que ninguém mais tinha,
quando meu álbum se perdeu...

Sei que devia ter me acostumado
a só brincar sozinho, para evitar o perigo
de alguma coisa desse tipo novamente acontecer...

Mas ainda hoje
(mesmo sem te encontrar
em nenhuma parte)

empino teu mais que lindo sorriso
no céu da minha imensa saudade.

(por Filipe C.)