sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Poema 200

Ainda bem, 
ainda bem que resistem por aí os estabanados, 
tropeçando em buracos, sem medo de rir de si mesmos 
quando percebem que pegaram o caminho errado. 

Ainda bem, amigos, 
ainda bem que existem por aí os amantes, 
que, por furor, buscam lábios e encontram dentes, 
e se descabelam todos, sem ligar para os passantes. 

Ainda bem, ainda bem que estão por aí os que vadiam, 
os que erram, os que não se deram bem na vida, os que cometeram perjúrio, 
falaram impropérios, os que se arrependem e (não) se consertam. 

Ainda bem, meu Deus, 
ainda bem que há, neste mundo cada vez mais raro, 
pessoas que choram e têm medo, 

pessoas que são pessoas de fato.
(Filipe Couto)

domingo, 19 de outubro de 2014

Poema 199

É que sou todo desencontro, Coisa Amada... 

No silêncio, mais eu ouço; 
no vazio, mais eu tenho; 
no escuro, não tateio; 
no erro, sou perfeito. 

Todo dia, Coisa Amada, corro para meu próprio abismo, 
pensando estar ao encontro dos teus braços. 

Por isso, preciso tanto de poemas: 
eles me algemam inteiro a ti, 

e viro pássaro.
(Filipe Couto)