segunda-feira, 16 de junho de 2014

Poema 189

O tempo 
não é uma flecha 
(reta, rumo a um alvo preciso). 

É antes um laço, 
que une pontos afastados 
de uma mesma corda. 

Deito-me e ao olhar o teto (do quarto, de mim) 
vejo um sorriso que desabrocha 
no exato instante em que se desfaz. 

E eis-me de novo preso, 
atado à saudade 
que resiste ao 'nunca mais'. 

(por Filipe Couto)

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Poema 188

Olho para o chão com frequência 
e caminho lento, 

como convém a um homem 
que busca nas frestas das calçadas 
uma pequena flor, um musgo que seja, 

uma forma de vida qualquer 
com coragem de resistir e nascer 
em meio à frieza dos seres acelerados. 

Quem me vê pelo vidro dos carros 
acha-me triste... 

Eles não sabem o quanto de vida 
busco em cada passo. 
(Filipe Couto)

sábado, 7 de junho de 2014

Poema 187

Mentias que meus olhos te afogavam, 
e eu cria. 
 
Pensava ser eu toda a água, 
suficiente para a sua sede-vida. 

Hoje, me vês, e estás saciada.

O que fazer, então, com minha existência: 
tão tua e líquida? 
(por Filipe Couto)

quarta-feira, 4 de junho de 2014

Poema 186

É noite, 
e um punhal doce 
crava em mim uma ideia vadia, 
perdida no vento. 

E, em vez de sangue, Amor, 
de mim escorriam flores. 

Escorriam flores.
(por Filipe Couto)