O tempo
não é uma flecha
(reta, rumo a um alvo preciso).
É antes um laço,
que une pontos afastados
de uma mesma corda.
Deito-me e ao olhar o teto (do quarto, de mim)
vejo um sorriso que desabrocha
no exato instante em que se desfaz.
E eis-me de novo preso,
atado à saudade
que resiste ao 'nunca mais'.
(por Filipe Couto)
Olho para o chão com frequência
e caminho lento,
como convém a um homem
que busca nas frestas das calçadas
uma pequena flor, um musgo que seja,
uma forma de vida qualquer
com coragem de resistir e nascer
em meio à frieza dos seres acelerados.
Quem me vê pelo vidro dos carros
acha-me triste...
Eles não sabem o quanto de vida
busco em cada passo.
(Filipe Couto)
Mentias que meus olhos
te afogavam,
e eu cria.
Pensava ser eu toda a água,
suficiente para a sua sede-vida.
Hoje, me vês, e estás saciada.
O que fazer, então, com minha
existência:
tão tua e líquida?
(por Filipe Couto)
É noite,
e um punhal doce
crava em mim uma ideia vadia,
perdida no vento.
E, em vez de sangue, Amor,
de mim escorriam flores.
Escorriam flores.
(por Filipe Couto)