segunda-feira, 25 de junho de 2007

Poema 13


Sobre Travessias
É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.
pensamento atribuído a Fernando Pessoa

Sei que muitas vezes temos que esquecer
nossos caminhos, porque senão sempre
chegaremos em desalinho aos mesmos lugares.

Sei que é preciso esquecer as velhas roupas:
elas já têm o formato dos nossos corpos
e sufocam os nossos esforços de transformação.

Mas sei também
que é tarde demais para esquecer seus olhos...

(eles são tão doces e tão radiosos,
que estavam postos na minha memória
antes de a nossa história acontecer...)


(por Filipe C.)

segunda-feira, 18 de junho de 2007

Poema 12


Sobre Lágrimas
Vamos, não chores.../ A infância está perdida.
A mocidade está perdida./ Mas a vida não se perdeu
Carlos Drummond de Andrade
Chora baixinho, que desespero
não é coisa de se espalhar por aí...

(também eu tenho guardado alguns segredos:
arrependimentos – ou ressentimentos? – das coisas que já vivi)

Não quero que a nossa vida seja um livro aberto:
Só nos unimos quando sofremos sozinhos,
só nos amamos quando não fazemos o certo.
(por Filipe C.)

segunda-feira, 11 de junho de 2007

Poema 11


Em uma semana, este blog, que mal completou dois meses, teve mais de duzentas visitas de computadores diferentes. Nunca imaginei que uma página com poesias pudesse ter um alcance tão grande. Muito obrigado pelo carinho, pelo respeito, pelos comentários críticos e positivos, que espero poder merecer sempre.

Sei que hoje é véspera do dia dos namorados, e que, por isso, o poema desta semana deveria falar de passarinhos voando placidamente por céus de puro anil... No entanto, preferi atender ao pedido de um grande amigo meu, que, ao ler o poema da semana passada, me perguntou de uma forma tão ingênua quanto direta:
quando você escreveu o poema, você também pensou por que esse cara largou a mulher? O poema desta semana é uma resposta a você, meu caro, e a todos que talvez tenham se perguntado por isso. Boa semana a todos! Até segunda que vem!


Sobre Tempestades
Parto porque é dia e eu sou a luz
da última estrela.
Christina Ramalho
Entenda bem: não é minha intenção te fazer algum mal...

(afinal, que culpa você tem de não colher os frutos,
enquanto eles ainda estavam maduros,
enfeitando as árvores nosso quintal?)

Se hoje eu decido caminhar, não é por orgulho
ou por falta de tanto amar.

É porque, a esta altura, já se acalmou o mar,
e eu preciso da tempestade,
para imensamente naufragar.



(por Filipe C.)

segunda-feira, 4 de junho de 2007

Poema 10


Sobre o Futuro

A timidez dos seus livros, o silêncio
das suas roupas, a despensa vazia...
nossa casa me sussurra a sua partida.

(é tão difícil acabar com o segredo
e explicar pro nosso espelho
que ele não vai mais te encontrar...)

Nesse tempo todo, você sempre
me ensinou até onde eu posso chegar...

Mas agora, mirando este quarto escuro,
sinto que preciso desaprender tudo,
para, sozinha, conseguir me libertar.




(por Filipe C.)