sábado, 17 de janeiro de 2015

Poema 217

Somos o que somos e o que não somos: 
nós somos o que somos e o que parecemos ser. 

O lado de fora (da casca, dos olhos, das palavras), 
esconde algo tenebroso, horrendo: o lado de dentro. 

O lado de fora preenche o mundo (e a Terra é imensa); 
o lado de dentro mal cabe em nós mesmos, de tantas tormentas. 

Ser o que o outro espera, e não aquilo que se é, 
é algo trabalhoso e torturante. Exige disciplina, cuidado, 

investimento em máscaras e discursos, exige um estar sempre em alerta, 
exige um luxo de recursos que poucos, bem poucos, enxergam ou têm. 

Sei que apenar 'ser' - por si, em si - também 
não é fácil. Requer, sobretudo, coragem. 

Em vez de roupas, acessórios, carros e cargos, para 'ser', 
temos que andar, sem medo, despidos, com o coração na mão. 

E, se fizerem pouco dele, que bom: a gente passa, 
e sobram menos uns babacas na nossa contramão. 
(Filipe Couto)

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