quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Poema 214

Agonia de ter este corpo, e não outro; 
de não ser aquele que viveu nossos sonhos, 
de jamais ter alçado voos ao teu lado, 
de querer ser Ícaro e ter sido Dédalo. 

Desespero de não te encontrar à noite 
e conseguir repouso nas tuas batalhas; 
crer-me cavaleiro nobre, como Quixote, 
confortar-te com loucuras de toda sorte. 

Aflição de carregar a Arca da Aliança, 
de entender a comunicação entre Deus 
e homens, mas estar no Egito sem esperança. 

Medo de conhecer Heráclito, a real 
alternância entre contrários e, depois de nós, 
de tudo acabado, sabê-lo tolo e errado.
(Filipe Couto)

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