quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Poema 202

Da vida de verdade - essa pra valer mesmo - 
sei quase nada, Coisa Amada. 

Desconfio de algumas coisas, no entanto: 
sei que deve haver algum parque ainda verde num canto, 
um peito - sem medo, ainda aberto - me esperando, 
uma chuva, para fazer brotar da terra, 
num pranto de descoberta, um novo mundo. 

Mas nada disso é certo, Coisa Amada. 
Tudo te espera, sem saber se a tua volta (a tua chegada) é certa. 
Hoje mesmo fez um sol agudo, que me machucou muito, 
e que fez do solo algo um pouco menos fecundo. 
Admito que houve uma brisa em algum ponto no meio tarde, 
mas ela - tão fraca - nem levou sonhos ao longe, nem aliviou o que lá no fundo arde. 

Será que tens a chave de tudo, Coisa Amada? Serás tu a brisa certa, 
o parque verde, o peito aberto, a chuva fecunda, o pranto da descoberta? 

Creio nisso e aguardo o futuro, sem pressa. 
Sim, correrão dos teus olhos algumas lágrimas, quando for preciso; 
sim, teu corpo todo vai se estremecer em dias de riso. 
És tu, Coisa Amada, a força que movimenta o mundo (o meu mundo); 
E tu - só tu - sabes disso há muito: 

desde que renasci ao te ver; 
desde o início do tudo.
(Filipe Couto)

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