quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Poema 196

Há uma porta 
no meio do sonho, 
a sete chaves guardada. 

Dois pesadelos a vigiam de longe: 
sempre que eu me aproximo, 
eles tratam de afastá-la. 

Eis a trama formada. Do lado de cá não 
existe nada: perdi endereço, nome, rosto e telefone, 
minha estante de livros, meus instantes de gala. 

Atravessar essa porta em mim conservada 
é, pois, a esperança de um novo começo, 
em outra estrada. Então ponho-me à cama 

disposto a não mais acordar até encontrá-la 
 e enfrentar seus protetores com uma espada 
 no que restou do meu próprio sangue forjada. 

Mas o sonho não aparece no sono: ele vem 
quando os olhos cansados, ainda abertos, 
lavam a si mesmos na madrugada. 

Então desarmado, de mim mesmo abandonado, 
vejo surgir um novo dia - que não é novo, nem é dia - 
e a porta lentamente (bem à minha frente) 

mais uma vez se apaga.
(por Filipe Couto)

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