no meio do sonho,
a sete chaves guardada.
Dois pesadelos a vigiam de longe:
sempre que eu me aproximo,
eles tratam de afastá-la.
Eis a trama formada. Do lado de cá não
existe nada: perdi endereço, nome, rosto e telefone,
minha estante de livros, meus instantes de gala.
Atravessar essa porta em mim conservada
é, pois, a esperança de um novo começo,
em outra estrada. Então ponho-me à cama
disposto a não mais acordar até encontrá-la
e enfrentar seus protetores com uma espada
no que restou do meu próprio sangue forjada.
Mas o sonho não aparece no sono: ele vem
quando os olhos cansados, ainda abertos,
lavam a si mesmos na madrugada.
Então desarmado, de mim mesmo abandonado,
vejo surgir um novo dia - que não é novo, nem é dia -
e a porta lentamente (bem à minha frente)
mais uma vez se apaga.
(por Filipe Couto)
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