domingo, 6 de julho de 2014

Poema 190

Depois de tantos anos confiando em Deus
e em sua infinita sabedoria,
eis que a Vida me reserva uma noite de sábado,
com estrelas, mas sem Amor; com céu limpo, mas sem poesia.

A lua, dura e curva, hoje mente:
aguça os sentidos (cheiro, peso, cor) e me deixa sozinho,
sem destino, sem equilíbrio, sem nada a meu lado
para comigo deitar sob tanto perigo.

De concreto, tenho apenas estas teclas
que aperto, como se delas pudesse extrair meu próprio sangue,
mas donde tiro apenas palavras, que circulam
o buraco negro que carrega meu nome.

Palavras que somem no extremo instante,
deixando-me a ilusão da companhia,
e o silêncio de mais uma noite.

Um silêncio que hoje é mais denso - muito mais denso -
do que jamais fora antes.
(por Filipe Couto)

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