1.
Nesta noite abafada de verão carioca,
sentamos, à mesa de um bar, a Vida e eu.
Ela (tensa) pede uma cerveja leve; eu amarga,
e logo tentamos decifrar os pequenos sinais
que vão revelar o que queremos um do outro.
Sobre a mesa posta, repousa uma porção farta de memórias,
salteadas na chapa com dor, alho, sal e alma,
enquanto os copos, com espumas e estrelas, unem céu e mar.
2.
Aos poucos já nos pegamos rindo à toa,
e, de tão natural, já nem percebemos nossas presenças,
no desenrolar dos batuques, que ecoam por ali .
O Tempo, no entanto, vai se encarregando de nos colocar
frente a frente, intimando-nos a dançar juntos uma gafieira
que acabou de começar. E eu vou.
De vez em quando erro uns passos,
piso sem querer num ou noutro calo,
mas ela – a Vida – continua alegre, olhando pra mim.
Ao sentarmos novamente, exaustos,
a cerveja amarga e as memórias já não
nos servem mais, nem à discussão, nem ao consumo.
3.
Mas, na mesa ao lado, olhos fixos no horizonte,
há uma Moça, de coração pulsante e vermelho.
E agora é a própria Vida que me empurra e grita:
– Depois descansa, rapaz!
Não perca esse coração: vá conhecê-lo!
E, mais uma vez, mesmo sem jeito, eu vou.
(por Filipe Couto)
Um comentário:
Me arrepiei!
"-Depois descansa, rapaz!"
A vida diz: SE JOGAAAA!!!
Fã número 1, sempreee!
PARABÉNS, Filipe!
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