terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Poema 180

A Vida e eu - poema em três movimentos 

1. 
Nesta noite abafada de verão carioca, 
sentamos, à mesa de um bar, a Vida e eu. 

Ela (tensa) pede uma cerveja leve; eu amarga, 
e logo tentamos decifrar os pequenos sinais 
que vão revelar o que queremos um do outro. 

Sobre a mesa posta, repousa uma porção farta de memórias, 
salteadas na chapa com dor, alho, sal e alma,
enquanto os copos, com espumas e estrelas, unem céu e mar. 


2. 
Aos poucos já nos pegamos rindo à toa, 
e, de tão natural, já nem percebemos nossas presenças, 
no desenrolar dos batuques, que ecoam por ali . 

O Tempo, no entanto, vai se encarregando de nos colocar 
frente a frente, intimando-nos a dançar juntos uma gafieira 
que acabou de começar. E eu vou. 

De vez em quando erro uns passos, 
piso sem querer num ou noutro calo, 
mas ela – a Vida – continua alegre, olhando pra mim. 

Ao sentarmos novamente, exaustos, 
a cerveja amarga e as memórias já não 
nos servem mais, nem à discussão, nem ao consumo. 


3. 
Mas, na mesa ao lado, olhos fixos no horizonte, 
há uma Moça, de coração pulsante e vermelho. 
E agora é a própria Vida que me empurra e grita: 

 – Depois descansa, rapaz! 
Não perca esse coração: vá conhecê-lo! 
E, mais uma vez, mesmo sem jeito, eu vou. 

(por Filipe Couto)

Um comentário:

Renata Portugal disse...

Me arrepiei!
"-Depois descansa, rapaz!"
A vida diz: SE JOGAAAA!!!
Fã número 1, sempreee!
PARABÉNS, Filipe!