vem de novo aquela ideia fixa
escravizar-me com seu açoite.
Para tentar romper esse grilhão,
grito: "Não, não posso mais vê-la!",
"Amanhã mesmo, começo a esquecê-la!"
Armo-me, então, para o conflito.
Reúno forças e fico à espreita,
esperando que ela, de novo, apareça.
(Enquanto aguardo, me repito:
"É a última vez que passo por isso;
mato essa ideia e tudo está resolvido".)
Sete mil noites e sete mil dias
já se passaram (meu coração
em permanente fome e vigília),
e a ideia não aparece;
a luta (como sempre) se adia.
Onde, meu Deus, ela se esconde?
O que pretende? Por que se distancia?
É na ausência que ela se torna mais forte,
e, sem que eu perceba, não se trata mais
de uma inimiga a ser por mim combatida.
Pelo contrário:
eu sou dela, e ela é minha.
(por Filipe Couto)
3 comentários:
Lirismo intimista com a classe de quem brinca com as palavras e as modela de tal forma que o leitor se encanta.
Parabéns!
bonito! e tão verdade que chega a doer.
QUE MARAVILHA! Arrepiei, me identifiquei. Assim como muitos que passaram e leram esse poema por aqui... Verdade!
Beijo, poeta!
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