domingo, 15 de setembro de 2013

Poema 174

Depois de tantos dias, tantas noites, 
vem de novo aquela ideia fixa 
escravizar-me com seu açoite. 

Para tentar romper esse grilhão, 
grito: "Não, não posso mais vê-la!",
"Amanhã mesmo, começo a esquecê-la!" 

Armo-me, então, para o conflito. 
Reúno forças e fico à espreita, 
esperando que ela, de novo, apareça. 

(Enquanto aguardo, me repito: 
"É a última vez que passo por isso; 
mato essa ideia e tudo está resolvido".) 

Sete mil noites e sete mil dias
já se passaram (meu coração 
em permanente fome e vigília),

e a ideia não aparece;
a luta (como sempre) se adia.

Onde, meu Deus, ela se esconde?
O que pretende? Por que se distancia?

É na ausência que ela se torna mais forte,
e, sem que eu perceba, não se trata mais
de uma inimiga a ser por mim combatida.

Pelo contrário:

eu sou dela, e ela é minha.
(por Filipe Couto)

3 comentários:

Carlos Bianchi de Oliveira disse...

Lirismo intimista com a classe de quem brinca com as palavras e as modela de tal forma que o leitor se encanta.

Parabéns!

Anônimo disse...

bonito! e tão verdade que chega a doer.

Renata Portugal disse...

QUE MARAVILHA! Arrepiei, me identifiquei. Assim como muitos que passaram e leram esse poema por aqui... Verdade!

Beijo, poeta!