terça-feira, 23 de setembro de 2008

Poema 94


Este blogue volta a ser atualizado em 7 de outubro. Abraços a todos!


Sobre a Morte - cinco passos, cinco meditações

1.
Singular
(sol entre sombras quedas),

ela enfim se apresenta

prometendo descanso
e um outro tipo de riqueza.



2.
Seu rosto não se vê,
seu corpo não se define.

É só a nós mesmos
que enxergamos nesta hora

(como moça que se nota
num relance de vitrine).



3.
Como se convencer
da necessidade da partida,
se falta impulso e mapa?

se nos pés (frágeis e incertos)
não cabe sequer uma sandália?

se no peito do capitão
só há a mancha da medalha?


4.
Chega o inevitável batel
(todo ouro e brilho),

suas velas abertas como garças,
sua gávea roçando de leve o infinito.

Eis que o não-saber
se torna todo sentir,

e o que era só certeza
se revela sem sentido.



5.
A viagem assim começa:

uma nuvem
serve de mar,

o vento vem
das asas dos passarinhos,

e o tempo vai tecendo um trilho
(feito de açúcar, veludo e vinho).

Esquecer
quem parte nesse navio

é tão improvável
quanto se perder desse caminho.

(por Filipe C.)

10 comentários:

Jéssica Quadros disse...

Logo agora que chegou a primavera. Ia sugerir um "Sobre Primaveras"...

Fiquei um bom tempo nesse poema. É forte, denso e caminha pra sutileza e pra leveza no final. É lindo.

Bom recesso, Filipe!

Anônimo disse...

Um dos poemas mais fortes que eu já li. E difícil também. Mas achei lindo! Não sei se tenho uma parte preferida,mas sei que amei o "como moça que se nota num relance de vitrine" e o "Eis que o não-saber se torna todo sentir, e o que era só certeza se revela sem sentido.". Perfeito, poeta!

Anônimo disse...

lindos, lindos, lindos! como a jéssica falou, é muito legal como a morte vai se tornando mais leve...quase que como uma aceitação dela.
Parabéns! Bom recesso!

Unknown disse...

Eu tenho a impressão de que você deu um passo a frente com este poema. Um nível de sofisticação e de poderação impressionante!
Estou orgulhosa, Filipe!

Anônimo disse...

Sou encantada com seu jeito de escrever, poeta.
Parabéns e bom descanso. Que as musas lhe inspirem!

Anônimo disse...

porque so volta a postar no dia sete ??

Unknown disse...

Maravilhoso,sem dúvida!Mas,se é que posso saber...quanto tempo você demorou para escrevê-lo?É daqueles que vem "fácil" ou aqueles que demoram para serem concluídos?
beijos*!

Anônimo disse...

já te falei isso pessoalmente mas vale ressaltar: nunca falar de morte foi tão simples e tão leve...
genial, bicho!!!! abraços!!!

Anônimo disse...

Muito bons todos os poemas!
Gosto, em especial, dos poemas 71 a 75.
Beijos

Anônimo disse...

Filipe, eu adorei esse poema! Mas você pode explicar a parte "Singular(sol entre sombras quedas)"? eu não entendi...
Parabéns!!! o blog é ótimo!