terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Poema 210

Estive hoje no aeroporto, 
depois de horas tentando alcançá-lo, 
para buscar algo que me mandaram. 

O coração da cidade me assusta: 
fecham-se mais e mais ruas, abrem-se tímidas vistas, 
empurram-se edifícios enormes, acima até da lua. 

A cidade se espalha, não como um rio - contido entre margens -, 
mas como um mar em ressaca - que avança sobre tudo - 
testando seus limites, querendo alcançar o futuro. 

No aeroporto, 
os painéis apontavam horários e destinos 
(lazer, negócios, outros compromissos),

 e nenhum trazia meu nome: 
"Filipe Couto, 9h, Outro Lado do Mundo, 
 embarque neste segundo". 

É que não sinto nenhuma viagem aqui dentro.
Se trocasse de vida, ela teria a mesma forma: 
continuaria essa coisa meio morna em que me vejo. 

E muito mais que a cidade 
é isso que me toma de medo.
(Filipe Couto)

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