depois de horas tentando alcançá-lo,
para buscar algo que me mandaram.
O coração da cidade me assusta:
fecham-se mais e mais ruas, abrem-se tímidas vistas,
empurram-se edifícios enormes, acima até da lua.
A cidade se espalha, não como um rio - contido entre margens -,
mas como um mar em ressaca - que avança sobre tudo -
testando seus limites, querendo alcançar o futuro.
No aeroporto,
os painéis apontavam horários e destinos
(lazer, negócios, outros compromissos),
e nenhum trazia meu nome:
"Filipe Couto, 9h, Outro Lado do Mundo,
embarque neste segundo".
É que não sinto nenhuma viagem aqui dentro.
Se trocasse de vida, ela teria a mesma forma:
continuaria essa coisa meio morna em que me vejo.
E muito mais que a cidade
é isso que me toma de medo.
(Filipe Couto)
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