quarta-feira, 23 de abril de 2014

Poema 185

Nada tenho a lhes contar hoje: 
passei o dia preso, 
amarrado às cordas de mim mesmo. 

Houve só um momento - 
eram duas ou três da tarde - 
em que me subiu um peso enorme no peito. 

Foi quando abri meu armário 
e vi um casaco que há muito não uso. 
Tentei-o. Não me coube. 

Mas ele ainda guardava 
meu cheiro de outra época: 

senti-lo me fez de novo cavaleiro 
cortejando sua amada donzela. 

Guardei o corpo que já foi meu 
em meio a tantos outros, que também já passaram, 
no mesmo armário e me deitei. 

Hoje nada aconteceu. 
Passei o dia preso, 
amarrado às cordas de mim mesmo. 
(por Filipe Couto)

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