Nesta manhã de domingo,
como em qualquer domingo,
sento-me à mesa da sala para mais um desjejum:
as mesmas preocupações de sempre,
as mesmas migalhas de sempre
caem sobre o prato onde, agora, tirita uma luz.
(Sim, uma luz.)
Colho-a, de imediato, como quem toma uma criança
aos braços, e me pergunto: "De onde ela veio?"
Confiro as janelas: fechadas.
As lâmpadas: apagadas.
(Será que ela sempre esteve aqui?)
Nesse instante lembro que tantas vezes fui fraco e falho,
tantas vezes deixei meu coração tolamente apertado
e fiz - de tudo que era claro - uma imensa noite...
Permita-me, então, Senhor, renascer contigo
e viver o dia, como se fosse interminável,
e viver o dia, como se acabasse hoje.
(por Filipe Couto)
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