sábado, 10 de agosto de 2013

Poema 168

A água e a terra - meditação em quatro poemas 

1. 
Desnudo-me num novo jogo 
em que não sou mais eu 
(nome e corpo carregado de promessas) 
mas outro. 

2. 
Ser tantos e tão poucos, 
numa sucessão infinda de seres múltiplos e únicos, 
ausente de destino, 

como rio que se desloca imóvel, 
esquecido do que traz ou trouxe. 

3. 
Mas de que adianta saber-se água 
se o mundo quer terra? 

Vou-me. Passo. 
À frente, ninguém me espera. 

4.  
Antes que eu me perca, 
antes que eu nos perca nessa sucessão de mim, 
bebe-me inteiro, amor.

E se não puder
(por já estar saciada a sede)

mergulha-me, transborda-me para a tua terra 
e deixa-me ser parte daquilo que te nutre. 

E quando surgirem flores, amor, 
colhe... colhe o que de mim ainda resta.
(por Filipe Couto)

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