sexta-feira, 22 de maio de 2015

Poema 236

Penso numa semente:
enterrada, mas paciente;

afastada da luz desde o princípio,
sem medo do escuro por ofício.

E também penso que a noite chega para todos, para tudo:
de fora para dentro, das bordas para o centro, para o fundo.

A escuridão nos empurra para uma solidão de semente:
a pressão da terra em volta, a estação certa que demora,
o úmido dos olhos, o húmus do coração em conserva.

Lição da semente: ela nunca desiste. Espera.
E, por fazê-lo, germina, rompe em vida. Acerta.
 
(Filipe Couto)