era a Cacau.
Mãe de oito filhos:
quatro de seu ventre,
quatro outros que seu coração generoso
(maior que o meu, maior que o seu)
felizmente acolheu.
Tinha emprego, CPF,
RG e sonhos
(como eu, como você).
Tinha também seis reais,
três para o pão,
três para a mortadela
(menos que eu, menos que você),
mas não teve tempo para cruzar
as ruas da cidadela em que vivia,
onde gritos e tiros são fiéis companhias.
Cláudia da Silva Ferreira
era
para aqueles polícias
menos importante que um criminoso,
um traficante.
Há muitas Cláudias que surgem e somem,
como cometas de sangue rasgando o céu do Rio.
E mesmo estarrecidos, só contemplamos - passivos - o espetáculo,
sem entender direito seu roteiro, seus atores, o drama, a trama,
enquanto aguardamos - bovinamente - a próxima sessão da semana.
(por Filipe Couto)