Saibam quantos estes meus versos virem
que não desistimos da luta;
que ainda há um vento que sopra à noite
espalhando prenúncios pelas ruas;
que nos tambores de minha cidade
batem em compasso dores e alegrias
(as crianças nos sinais e o samba da nossa Vila);
que dentro da gente da minha terra
cresce um monstro, com olhos enormes (em alerta),
a devorar aqueles zumbis nos sofás, diante das tevês.
Porque à vida não se nega uma chance,
e não será deles uma gota do nosso sangue,
enquanto um sorriso puder nos comover.
(por Filipe Couto)
Não, eu não posso mais.
Não de novo.
Avisem a ela.
Expliquem que agora
sou eu que estou em voo,
e não posso encontrá-la.
Não olho a olho.
Supliquem para que não me chame,
que meu corpo (sonho e sangue)
não tem medo do que aconteceu (antes).
Façam, amigos, façam das suas a minha voz
(hoje perdida em algum canto, em algum pranto)
e gritem e gritem que para sempre serei dela
e que por isso é que preciso partir
e me tornar outro.
Porque eu não posso mais.
Não de novo.
(por Filipe Couto)
Novamente as horas passam
sem propósito ou escolha,
perdidas,
imbricadas umas nas outras.
Alheias ao que despertam ou cessam,
ao antes e ao depois,
as horas brincam de roda,
se devoram, se renovam,
enquanto na parede da sala
resiste
(embora amarelada)
uma foto,
tão só lembrança de nós dois.
(por Filipe Couto)