Este blogue volta a ser atualizado em 7 de outubro. Abraços a todos!
Sobre a Morte - cinco passos, cinco meditações
1.
Singular
(sol entre sombras quedas),
ela enfim se apresenta
prometendo descanso
e um outro tipo de riqueza.
2.
Seu rosto não se vê,
seu corpo não se define.
É só a nós mesmos
que enxergamos nesta hora
(como moça que se nota
num relance de vitrine).
3.
Como se convencer
da necessidade da partida,
se falta impulso e mapa?
se nos pés (frágeis e incertos)
não cabe sequer uma sandália?
se no peito do capitão
só há a mancha da medalha?
4.
Chega o inevitável batel
(todo ouro e brilho),
suas velas abertas como garças,
sua gávea roçando de leve o infinito.
Eis que o não-saber
se torna todo sentir,
e o que era só certeza
se revela sem sentido.
5.
A viagem assim começa:
uma nuvem
serve de mar,
o vento vem
das asas dos passarinhos,
e o tempo vai tecendo um trilho
(feito de açúcar, veludo e vinho).
Esquecer
quem parte nesse navio
é tão improvável
quanto se perder desse caminho.
(por Filipe C.)