terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Poemas 49 e 50


Sobre Sonhos

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./ Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor./ Porque o amor resultou inútil.
(Carlos Drummond de Andrade)

O céu plúmbeo nada anuncia.

Nem a chuva
(outrora, memória; agora, apatia).

Mas chega um momento
em que (sem heroísmos ou egoísmos)
é preciso inventar um pequeno barco no ar

(ou um outro sonho qualquer
que nos arranque o chão dos pés).

Chega um momento
em que não se pode aguardar o vento,
em que temos que nos arremessar ao mar.

Porque é urgente salvar o amor.

Chega um momento em que é urgente amar.
(por Filipe C.)


Sobre Rosas

A certeza da lágrima não fez murchar essa rosa.
Tão delicada e clara (tudo mais era nada!),
ela só se deslumbrava com a hora de fenecer.

(porque se sabe finita, cada pétala ganha
mais cor ainda ao som do entardecer...)

Mas as minhas lágrimas não são certas,
nem minhas rosas estão despertas...

Sem ocaso, meu mundo
(infinito e opaco)
ainda espera por você.
(por Filipe C.)

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Poemas 47 e 48


Sobre Vazios


Hoje, não sou mais
que a nuvem desfeita ao vento,
que a folha perdida no chão.

Hoje, não sou mais
que o silêncio (vestido de preto),
que o frio cadente desta estação.

Hoje, não mais existo
porque faltas tu em mim

e essa ausência é menos
um alento que uma pesada cruz.

Hoje, sou mais como um brilho intenso
que se apaga (num momento)
em ambos os lados da luz.

(por Filipe C.)

Sobre Rupturas

Nos seus olhos
tudo o que eu poderia ter amado.

Nas minhas mãos (guardados)
os dados viciados do nosso jogo.

No coração
o som sem voz das nossas histórias.

E no serenar dos seres e das coisas
(exatamente naquele átimo em que
tudo é silêncio e expectação),

ela (num soluço) arrombou
a porta surda e saiu pela rua,
sem pisar uma única lágrima...

(por Filipe C.)

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Poema 46


Sobre o Pôr do Sol


A meu favor,
tenho a cor desse pôr do sol.

Tenho o sonho,
as palavras
e essa capacidade de voar
sem olhar as próprias asas...

A meu favor,
tenho também o teu retrato


(mesmo tão delicado, ele sustenta
todas as paredes do meu quarto).

(por Filipe C.)

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Poemas 44 e 45


Hoje quase não tivemos poemas aqui. Graças à intervenção de quem gosta de verdade deste blogue (para adotar a escrita portuguesa), fui intimado a publicar não um, mas dois poemas com estilos bem diversos. Boas leituras e boas semanas!


Sobre Entregas

Cá entre nós,
se ao final desta história estaremos todos sós,
de que adianta reclamar, chorar, lutar até perder a voz?

Por que, então, não abraçar as coisas feias
e esquecer as nossas dores (e as alheias)?

(já me disseram que só assim é possível
a paz de existir, sem se ferir...)

Mas o problema é que (no fundo, no fundo)
quem vive de verdade se entrega a tudo.

(e, quem sabe?,
toda lágrima vale a pena
se a alma não é serena)

(por Filipe C.)

Sobre Artistas

Muitas vezes manchadas por desastradas experiências cotidianas
ou rasgadas por mãos que (inocentes) nos esfarelam as esperanças,
muitas vezes amareladas (pelo tempo ou pelo medo)
ou marcadas por dobras, necessárias para embrulhar terríveis segredos,

somos todos folhas em branco – livres, infinitas de futuro –
prontas para serem preenchidas com letras e cores
(ou para podermos passar a limpo
as histórias das nossas próprias dores )

Podemos escrever nelas
o nosso destino
com as nossas mãos...

Mas por que parece ser minha sina
ficar à espera de algum artista
que me desenhe a vida
num arranco de inspiração?
(por Filipe C.)