segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Poema 27


Sobre Frutos

Deixa, então, que o amor amadureça,
mas (é bom que não esqueças)
estejas atento a qualquer surpresa...

(qualquer vento que acaso me mereça,
poderá, de repente, me balançar inteira)


(por Filipe C.)

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Poema 26


Sobre Jardins

Por que não estás aqui, ao pé de mim,
pra dividir o peso deste jardim
sem flores que ora vejo?

(é só no teu rosto, e não em outro,
que eu consigo encontrar sossego)


(por Filipe C./ adaptado e musicado posteriormente por Jessica Nogueira)
*"ao pé": junto a; perto de

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Poema 25


Sobre a Beleza

Sei que quando você passa
o mundo inteiro pára
(porque ele é todo seu).

É claro que admiro o que há de lindo
e admito que é impossível
não ficar à sua mercê.

Mas hoje não quero mais seu rosto,
nem seu corpo, nem aquilo que todos
sem esforço podem ver:

quero esse seu jeito tão meigo;
quero esse seu silêncio perfeito
de quando nada se precisa dizer;
quero seus planos, segredos, medos e afins;

e quero pra sempre essa sua alma
(conto de fadas) calada, colada junto a mim.


(por Filipe C.)

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Poema 24

Eu e meu avô nascemos no mesmo dia, 22 de maio, com 55 anos de diferença. Minha mãe diz que me pareço bastante com ele: o jeito de falar, o jeito de olhar, o jeito de pensar. Convivemos pouco. Há quase vinte anos ele se foi. Outro dia, remexendo em velhos papéis, ela encontrou um caderno de poesias dele e me entregou. Minha avó disse-me que nunca soube da existência desses textos, e que nem sabia desse seu talento.
Não sei ao certo se era vontade dele um dia ver seus poemas lidos; mas, se somos mesmo parecidos, acredito que sim. Por isso, deixo aqui hoje um texto dele e, em seguida, um meu. Os estilos são bem diferentes, embora os temas sejam basicamente os mesmos.
Vô Couto...

Que Adianta

Que adianta dizer que estou sofrendo,
que me alimento mal, que não durmo enfim...?
Que adianta dizer isso, se não me estás vendo,
se agora nada, nada podes fazer por mim...?

Que adianta dizer que a noite é fria,
que a solidão me atormenta a alma,
se não vens tirar-me desta agonia,
se não vens me dar, querida, a calma...?

Que adianta odiar, me jogar ao chão,
quebrar tudo que ficar perto da minha mão,
maldizer a sorte...que adianta enfim...?

Por isso é que me vêem triste e calado:
que adianta tornar-me um revoltado,
se agora nada, nada podes fazer por mim?

(por Alceles da Silva Couto)

Sobre Esperas

A estrada vai além do que se vê
Marcelo Camelo

Não venha me dizer que vai ficar tudo bem:
ninguém tem o poder de decretar
céus azuis com borboletas coloridas
a voar entre escalas e melodias.

Não me peça fé ou paciência:
você sabe que as esperas podem ser
terríveis tragédias se o futuro
é feito de matéria escura e incerta.

A verdade é que não sei mais
se essa (talvez breve) despedida
torna esta minha vida
curta ou longa demais;

sei que, quando miro o espelho,
percebo que o tempo
já me sega com sua faca fina e fria

(e o sangue que dos meus olhos escorre
esconde até a primeira luz do dia)

*segar: cortar em tiras ou fatias delgadas; pôr termo a; acabar com.

(por Filipe C.)