segunda-feira, 30 de julho de 2007

Poema 18


Sobre Covardias

Fecha os teus olhos e escuta essa chuva
que (tão calma...) tudo inunda.


Agora escuta (atento)
o lamento do vento nos vidros
e respira fundo o frio todo que faz lá fora.

Aproveita, vai aí dentro do teu peito
e me procura naquele breve espaço
escondido entre a culpa e o desejo.

E se você, por acaso, me encontrar,
por favor, me arranca de lá...

(um coração que, por medo, não sangra
não pode nunca ser o meu lar)

(por Filipe C.)

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Poema 17

Sobre Fantasias
Vem, por favor não evites
Meu amor, meus convites
Minha dor, meus apelos
Chico Buarque
Não me olhe assim:
pode ser que desta vez eu não fuja e repita,
(com a alma nua) que eu só quero ser pra sempre sua.

Não me peça discrição:
meu amor não tem antes nem depois
e precisa (sozinho) ocupar o vasto espaço
que ainda existe entre nós dois.

Não me pergunte o que eu quero:
às vezes imagino ser o vento
batendo lento à sua porta
até que você possa
se abrir para eu entrar

(às vezes prefiro ser só pensamento,
invadindo seus sonhos até você acordar).
(por Filipe C.)

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Poema 16

Em comemoração às mil visitas em pouco mais de quarenta dias, deixo hoje dois poemas: o primeiro que eu escrevi e o último deles, finalizado esta manhã. Qual é qual? Deixo que o leitor perceba por si. Até segunda que vem!

Sobre Ilusões

Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.
Cecília Meireles

Nada é assim.
O céu azul, lavado da madrugada,
as crianças se divertindo com os palhaços e suas piadas
e ela, ansiosa, me esperando à entrada da nossa casa.

Nada é tão bom assim. Nada.
O dia não aceita soluções simplistas.
Há sempre uma nuvem (distraída) embaçando a vista.

E os palhaços? Bem, nem sempre o artista
pode disfarçar sua tristeza (quanta ironia...),
mesmo com quilos de maquiagens e fantasias.

E ela? Pode ser até que ela me espere à porta
da nossa casa, ansiosa - ou aflita?-,
se armando para a nossa próxima briga...

Nada devia sequer parecer tão bom assim.
Porque, às vezes, tudo acontece como deveria
(nossos sonhos, nossa vida)

mas, quando a noite chega, deitamos,
sobre fantasmas, nossas cabeças
e (mesmo à nossa revelia)
as dúvidas pululam e as sombras se multiplicam.

(por Filipe C.)

Sobre o Silêncio

Quando a tarde ouviu
O adeus na tua voz,
Ainda chovia...

Uma chuva tímida e triste...

(a mesma chuva que insiste
em te manter em mim)

(por Filipe C.)

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Poema 15

Sobre Ignorâncias

Nem ninguém se lembrava da criatura
e de seus sofrimentos e de sua
atormentada vida ali deixada.
Jorge de Lima

Passei muitos anos (preso) nos meus porões (escondido),
treinando minha cara de surpreso,
ensaiando exclamações de desespero,
rezando para que você me ignorasse ou me traísse.

(às vezes acho que já nasci esperando o dia
em que finalmente poderia
te odiar)

Enquanto isso, você lá fora
ignorava esses meus silenciosos ritos
e com todo o amor que eu não te dei na vida
devagar me tecia
o mais belo luar.
(por Filipe C.)

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Poema 14


Sobre o Pânico
Ladrões e contrabandistas
estão cercando os caminhos
Cecília Meireles
Carrego em cada bolso uma saudade,
mesmo que haja ladrões em toda parte,
e eu não tenha olhos para vê-los...

(o medo, no entanto, me permite senti-los
caminhando exatamente na minha direção)

Nem a luz do dia me alivia:
em cada sombra, ainda que distraída,
mora o perigo de um espanto.



(por Filipe C.)